Subordinação Funcional Eterna e Triteísmo

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A Subordinação Funcional Eterna (SFE) perdeu a unidade na Trindade? O perigo do triteísmo.

No capítulo 2* aprendemos que para ser pró-niceno é preciso afirmar operações inseparáveis. Operações inseparáveis significam mais do que apenas uma cooperação ou envolvimento de todas as três pessoas. As pessoas não são três centros de consciência e vontade, como se meramente trabalhassem juntas, compartilhassem os mesmos desejos e concordassem com o mesmo plano. Operações inseparáveis significam que todo ato de Deus é o único ato do Deus trino. Não há atos diferentes por agentes diferentes, mas um ato de acordo com uma agência divina. Singularidade na vontade, singularidade na operação. Discorreremos mais no capítulo 10.

Mas a linguagem SFE trai essa premissa básica da ortodoxia bíblica quando os aderentes da SFE se referem às pessoas como se fossem seus próprios agentes, ou quando usam palavras como “papéis” e “funções” para definir as pessoas. Ware agora diz que mantém uma vontade na Trindade, enquanto anteriormente ele ensinava três vontades. Mas quando ele descreve as pessoas da Trindade, especialmente as gradações de autoridade entre elas, é improvável que a visão de Ware (a visão SFE) possa sustentar legitimamente operações inseparáveis como ele afirma, muito menos a simplicidade divina. Grudem chega a criticar operações indissociáveis. 64

Ainda mais quando os aderentes da SFE usam uma linguagem que historicamente envolve vontades múltiplas. Por exemplo, os aderentes da SFE não apenas dizem que o Pai gerando o Filho significa que o Pai tem “primazia ontológica”, mas o Pai enviando seu Filho gerado ao mundo por amor ao mundo revela o “motivo do Pai”, “que deve ser exclusivamente do Pai, mesmo que seu motivo esteja em harmonia ou unido aos motivos do Filho e do Espírito”. 65 Múltiplos motivos? Motivos exclusivos? Essa é uma receita para o triteísmo.

A SFE também atribui ao Pai um “propósito distinto” e exclusivo dele. Existe uma “autoridade paterna” que é essencial para o “motivo distinto do Pai e o propósito distinto do Pai “, pelo menos se ele enviar seu Filho. 66 Ware chega a dizer que o Pai é seu próprio “agente distinto”. 67 Múltiplos propósitos? Agentes diferentes? Mais uma vez, mais ingredientes para o triteísmo.

Superficialmente, tal linguagem pode parecer inofensiva. Mas se considerarmos como a SFE introduziu uma categoria recente e inovadora de relações funcionais de autoridade-submissão na Trindade imanente, de pronto essa linguagem é muito alarmante. Especialmente fala-se de uma autoridade exclusiva do Pai e de uma subordinação exclusiva para o Filho. É gritar: “Múltiplas vontades!”. Aqui está o trinitarianismo social da SFE – centros distintos de consciência – vindo de forma densa e pesada. A questão é que o SFE separa as pessoas da Trindade umas das outras, e até mesmo as coloca umas contra as outras. A fragmentação é o resultado.

Quanto ao propósito

Os aderentes da SFE observam como o Deus trino age em relação à criação e assumem que Pai-para-Filho é sinônimo de autoridade-para-submissão. Mas Pai-para-Filho não é o equivalente de poder- instrumental ou superior-para-inferior, diz John Webster (God Without Measure, 72). Ao falarmos sobre o Deus único, simples, mas trino, em referência à criação e à economia da salvação, é apropriado falar de propósito-para-execução.

Em contraste, as pessoas não são “agentes quasi-independentes”, adverte John Webster. “Na economia, a Trindade age indivisivelmente, e as obras da Trindade devem ser atribuídas ‘absolutamente’ à única essência divina.” Assim, “é insuficiente falar dos ‘papéis mútuos’ desempenhados pelas pessoas na economia; ação inseparável ou coerente não é simplesmente operação conjunta … Atividade comum não é atividade indistinguível”. 68 Papéis mútuos — essa é precisamente a linguagem que o SFE usa. O problema é que ela supõe que “operações inseparáveis” são meramente uma operação conjunta. Mas uma atividade compartilhada não é a mesma coisa que uma atividade singular.

John Owen diz que as pessoas são “indivisíveis em suas operações, agindo todas pela mesma vontade, a mesma sabedoria, o mesmo poder “. Cada pessoa, portanto, é o autor de cada obra de Deus, porque cada pessoa é Deus, e a natureza divina é o mesmo princípio indivisível de todas as operações divinas; e isso surge da unidade da pessoa na mesma essência”. 69 Observe, Owen não exclui o poder. Um em vontade, as pessoas agem pelo mesmo poder. Assim como o Filho não é de uma glória menor, também o Filho não é de um poder menor. Isso é algo que a SFE não pode dizer.

Além disso, as três pessoas não podem realizar uma única ação se uma ou mais pessoas forem, por definição de sua personalidade, inferiores em autoridade a outra pessoa. Assim que você insere gradações de autoridade dentro da Trindade imanente, gradações que definem a pessoa e, portanto, essenciais para que a Trindade seja uma Trindade, você perde a vontade única em Deus. 70 Você perdeu a essência única e simples da Trindade. Nosso Deus é simplesmente Trindade…nada mais!

Além disso, quando alguém projeta autoridade e subordinação na vida interior de Deus (Trindade imanente), o ônus da prova recai sobre eles para explicar como não há agora três vontades na Trindade (triteísmo) em vez de uma vontade (simplicidade). “Onde há uma vontade simples, não pode necessariamente haver autoridade e submissão.” E por que é assim? Resposta: “autoridade e submissão requerem diversidade de faculdades volitivas” — em outras palavras, vontades múltiplas em Deus. 71 Por isso mesmo, o trinitarianismo social tem sido acusado de triteísmo.

Os aderentes da SFE negam a heresia do triteísmo, mas é incerto como eles podem evitá-la quando introduzem uma nova categoria funcional na Divindade imanente. É claro, ninguém afirma ser um triteísta, mas o triteísmo pode se infiltrar e de maneiras que não percebemos. Isso acontece de dois modos: “Uma forma usaria um conceito moderno de ‘pessoa’ que enfatiza demais a individualidade de cada uma das três. Outra forma enfatizaria demais os traços distintivos de cada pessoa divina, em vez de enraizar as distinções pessoais nas relações de origem que fundamentam suas missões”.72 Isso é exatamente o que a SFE tem feito: superenfatizado a individualidade, superenfatizado traços distintivos, distinguindo pessoas de acordo com papéis funcionais de hierarquia em vez de apenas relações de origem. “Formas ‘sociais’ modernas de trinitarianismo enfrentam regularmente esta acusação.”73

SFE é uma dessas formas sociais modernas.

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* N. do T.: Este é um breve excerto do livro Simply Trinity, em seu capítulo 8.

64. Grudem está incorreto ao assumir que operações inseparáveis significam operações indistinguíveis. Ver Grudem, “Biblical Evidence,” 258.

65. Ware, “Unity and Distinction of the Trinitarian Persons” 34–36 (especialmente 36), ênfase adicionada. Cf. Grudem, “Doctrinal Deviations,” 39.

66. Ware, “Unity and Distinction of the Trinitarian Persons,” 37.

67. Ware, “Unity and Distinction of the Trinitarian Persons,” 38.

68. Webster, God Without Measure, 94.

69. John Owen, Pneumatologia, or a Discourse Concerning the Holy Spirit, in Works 3:93, ênfase adicionada. Cf. Webster, God Without Measure, 95.

70. Giles, The Eternal Generation of the Son, 232.

71. Holmes, “Classical Trinitarianism and Eternal Functional Subordination,” 104.

72. Treier, Introducing Evangelical Theology, 84. 73. Treier, Introducing Evangelical Theology, 84.

73. Treier, Introducing Evangelical Theology,84.

John Doe

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