Por Joe Thorn.
Por vinte anos, tenho me considerado cum “cristão confessional”. Isso significa que eu subscrevo a uma confissão de fé histórica que creio resumir linda e acuradamente a fé cristã. Isso não surpreende as pessoas que me conhecem. Eu tendo a vestir a camisa das minhas convicções. Literalmente. As tatuagens que cobrem meu peito e braços falam da fé que eu estimo. A tatuagem em minha mão diz “1689” por causa da confissão de Fé Batista de 1689.
Por que eu amo a Deus, eu amo sua palavra. E por que eu amo Deus e sua palavra, eu amo teologia. E por que eu amo teologia, eu amo confissões de fé. Conhecer a Deus é crer em quem ele se revelou ser em Cristo, descansar em sua graça, obedecê-lo em fé.
Em tudo isso, somos dependentes da Sagrada Escritura e somos compelidos a afirmar e articular as verdades nela reveladas. É aqui que as confissões de fé desempenham um papel vital na saúde espiritual do cristão e da igreja local.
Nenhum credo exceto a Bíblia?
Uma confissão de fé é uma declaração claramente articulada daquilo que um grupo de cristãos acredita sobre Deus, o evangelho, a igreja e a vida cristã. Os presbiterianos são bem conhecidos pelo desenvolvimento e uso de sua Confissão de Westminster e seus Catecismos com muita eficácia.
É claro que os presbiterianos não estão sozinhos em sua herança confessional. Batistas, congregacionais, luteranos e anglicanos têm uma longa história de redação e uso de padrões confessionais em suas igrejas. Mas, hoje, o confessionalismo está amplamente ausente nas igrejas evangélicas. Isso pode ser em parte devido ao surgimento de igrejas independentes e não denominacionais que não têm laços estreitos com denominações ou corpos eclesiásticos trabalhando juntos. Ou, em alguns casos, pode ser simplesmente o resultado de uma falta de convicção teológica.
Mesmo com o crescente interesse no calvinismo entre os evangélicos nos últimos anos, muitas vezes o ressurgimento do interesse pela doutrina não levou a uma compreensão robusta da teologia reformada ou a uma aceitação das confissões reformadas.
Em meu próprio contexto, ocasionalmente ouço alguns batistas dizerem coisas como: “Não precisamos de nenhum credo além da Bíblia”. Embora eu afirme a mesma crença na supremacia e suficiência das Escrituras, tal sentimento ignora o propósito e o uso das confissões. E, a propósito, tal afirmação é em si uma confissão.
Confissões de fé apropriadas, como Westminster, ou a Confissão Batista de 1689, servem a quatro propósitos: clareza, unidade, caridade e segurança.
1. Clareza
As confissões identificam as crenças cristãs centrais no contexto de um mundo que não acredita na verdade e de um ensino popular que não se conforma com a doutrina que é de acordo com a piedade. Se quisermos conhecer a verdade, devemos ser capazes de explicá-la além de simplesmente citar a Bíblia. Isto é, em parte, o motivo pelo qual Deus deu os mestres da igreja – para desvendar as verdades das Escrituras.
Em que acreditamos? O que importa para nós como povo de Deus? Uma confissão expõe isso para todos verem. E tenha em mente que as confissões não funcionam como uma autoridade por si mesmas, mas nos direcionam para a verdade e reafirmam a Escritura como a palavra perfeita e autoritativa de Deus para a igreja.
2. Unidade
Ao identificar as crenças centrais, as confissões fornecem uma base para a unidade doutrinária dentro de uma igreja e entre igrejas que pensam da mesma forma. Antes que possa haver uma comunidade de fé, deve haver uma fé para se confessar. A própria base de nossa comunhão e comunidade é a verdade de Deus e seu evangelho.
“Antes que possa haver uma comunidade de fé, deve haver uma fé para se confessar.”
Não basta querer estar junto, ou mesmo afirmar que “Jesus é o Senhor”. Devemos estar unidos pela fé de uma vez por todas entregue aos santos claramente apresentada na linguagem do povo. Tal unidade não é apenas desejável com as igrejas modernas, mas com as igrejas que vieram antes de nós. Uma igreja confessional não se vê como uma ilha para si mesma, mas como parte do grande continente da igreja.
3. Caridade
Sim, as confissões traçam importantes linhas de distinção entre várias igrejas ou denominações, mas mesmo assim elas revelarão que nossas diferenças são ou de importância secundária ou essencial.
Por exemplo, a Confissão de Fé Batista de 1689 é a confissão comum das igrejas batistas reformadas. Foi escrita em 1677, durante um período de perseguição pela Igreja da Inglaterra contra os dissidentes, e não seria publicamente afirmada e assinada até 1689, quando o Ato de Tolerância passou e deu liberdade aos protestantes que diferiam da igreja estatal.
Os batistas construíram esta confissão sobre o trabalho de nossos irmãos presbiterianos e congregacionais; ou seja, a Confissão de Fé de Westminster e a Declaração de Savoy. Eles usaram essas confissões anteriores porque acreditavam que eram expressões bíblicas e bem escritas da fé. Os batistas editaram essas confissões para apontar suas próprias características teológicas como batistas. Ao fazer isso, os batistas demonstraram muita concordância com esses e outros grupos de crentes, mantendo-se fiéis às suas convicções teológicas.
4. Segurança
As confissões não são apenas uma afirmação pública de doutrina, mas também um meio de instrução e uma ajuda para proteger a igreja do erro. Credos e confissões se desenvolveram historicamente no contexto de divergência teológica ou heresia, onde a igreja foi forçada a demonstrar claramente o que a palavra de Deus diz em assuntos de grande importância. Uma igreja sem confissão é uma igreja que está desprotegida contra os ataques do inimigo, que deseja criar confusão e lançar dúvidas sobre a palavra de Deus.
Toda igreja precisa de uma confissão. Hoje em dia é popular redigir a nossa própria confissão e, embora isso seja muito melhor do que nenhuma confissão, muitas delas são fracas, mal escritas e incompletas, sem a atenção aos detalhes que os grupos de pastores-teólogos muitas vezes trabalharam em gerações anteriores.
Uma igreja confessional é uma igreja que acredita que a verdade é digna de se conhecer e tornar conhecida. É uma igreja que se une com as igrejas que vieram antes dela. É uma igreja que deseja clareza, unidade, caridade e segurança para o povo de Deus.
Tradução: Luis H. de Paula